O silêncio da biblioteca era profundo, quase sagrado. Mário folheava um livro antigo, com páginas amareladas e letras pequenas. “Professor,” perguntou ele, “se a educação era o caminho da libertação, por que é que nem todos podiam estudar?”
Mahlemba ajeitou os óculos e respondeu: “Porque o saber é poder, Mário.
E quem domina nunca partilha poder facilmente. Entre 1950 e 1960, as escolas eram poucas e seletivas. Os filhos dos colonos estudavam para mandar; os africanos, quando muito, aprendiam o suficiente para servir. Chamavam a isso ‘educação adaptada’ — um ensino que ensinava a obedecer, não a questionar.”
Mário levantou os olhos. “E havia diferença até nos livros?”
“Havia em tudo,” disse o professor. “Nas matérias, nos horários, nas cadeiras.
O africano não aprendia filosofia, nem história do mundo — aprendia a carpintar, a costurar, a cantar hinos. Era um sistema que não formava cidadãos, formava mão-de-obra.”
“Mas mesmo assim havia quem conseguisse ir mais longe, não é?” perguntou Mário.
“Havia sim,” respondeu Mahlemba. “Os poucos que conseguiram avançar — pelos estudos, pela fé ou pela teimosia — tornaram-se sementes de mudança.
Eles liam o que não era permitido, pensavam o que não era ensinado, sonhavam o que não era autorizado. E começaram a perceber que a exclusão não era acidente — era método.”
Mário pousou o livro e disse: “Então a luta pela independência começou na sala de aula.”
Mahlemba sorriu. “Começou na mente, Mário. Porque o primeiro analfabeto não é quem não sabe ler — é quem não tem acesso à verdade.”
Ficaram em silêncio por alguns segundos, ouvindo o som distante das páginas viradas.
Mahlemba concluiu: “A educação é como a luz desta sala: quando só alguns têm acesso, o resto do povo continua na sombra.”
Mensagem final: Um povo que aprende, liberta-se. Um povo que é ensinado a obedecer, repete a prisão. O futuro de uma nação começa pela forma como ela educa os seus filhos.
