O sol da tarde iluminava a Praça da Independência. Os pombos voavam em círculos sobre a estátua, e o som dos carros misturava-se ao das vozes que passavam.
Mário e o Professor Mahlemba sentaram-se num banco de cimento, de frente para o monumento.
“Professor,” disse Mário, “a história fala muito da dominação, mas quase nunca das resistências. Será que o povo aceitou tudo calado?”
Mahlemba cruzou as mãos sobre o joelho e respondeu: “De maneira nenhuma, Mário. Entre 1880 e 1910, o país foi um campo de resistência.
Houve chefes que recusaram pagar imposto, aldeias que se rebelaram contra o trabalho forçado, comunidades inteiras que fugiram para o mato em vez de se submeter. Muitos enfrentaram exércitos com lanças e coragem, mesmo sabendo que a derrota era provável.”
“Quem eram eles?” perguntou Mário.
“O povo de Gaza, de Marracuene, de Maganja da Costa, do Niassa, de Angoche,” respondeu o professor. “Houve líderes como Gungunhana, Mawewe, Mataca, Zixaxa, Zalala… nomes que o tempo quase apagou, mas que sustentaram a alma deste país. Cada um lutou à sua maneira — uns com armas, outros com estratégias e fé.” Mário ficou a olhar a estátua. “E venceram?”
“Nem sempre,” respondeu Mahlemba. “Muitos foram derrotados, alguns traídos.
Mas mesmo quando perderam a guerra, ganharam algo maior: memória.
Porque mostraram que o moçambicano nunca foi submisso.
Enquanto havia um homem livre, havia resistência.”
O sino da catedral soou. Mahlemba olhou para o alto e disse:
“O problema, Mário, é que o país aprendeu mais sobre quem dominou do que sobre quem resistiu. E por isso muitos acham que somos um povo fraco — quando, na verdade, somos um povo que aguenta, que insiste, que se levanta.”
Mário respirou fundo. “Talvez a nossa geração precise resistir outra vez — mas agora contra a apatia.”
Mahlemba sorriu. “Sim, Mário. As armas mudaram, mas a luta continua — agora dentro de cada consciência.”
Mensagem final: As guerras passaram, mas a coragem ficou.
Quem esquece os que resistiram, volta a ser vencido — não pela força, mas pelo esquecimento.











































