Hermínio Chissano, amplamente conhecido pelo seu nome artístico Duas Caras, é uma figura emblemática do rap em Moçambique. Nascido em 1978 no bairro do Aeroporto, na periferia de Maputo, ele cresceu imerso nas dificuldades e na realidade de uma área marginalizada, o que acabou por influenciar profundamente a sua música e a sua visão de mundo.
Desde muito jovem, Duas Caras encontrou no rap uma forma de expressão e libertação. Influenciado por ícones do rap americano, especialmente Jay-Z, ele começou a desenvolver o seu próprio estilo na década de 1990. Em 1997, formou o grupo “Tropas do Futuro” ao lado de Denny OG, DJ Damost, Stuped Man e N´Star, marcando o início da sua carreira no cenário musical.
Após a dissolução do grupo, Duas Caras cofundou a GPRO, uma das coletâneas de rap mais influentes de Moçambique, ao lado de Djo e Cem Paus. O grupo lançou em 2003 o álbum “Um Passo em Frente”, que rapidamente se tornou um marco no rap moçambicano. Com letras conscientes e educativas, Duas Caras estabeleceu-se como um dos liricistas mais respeitados do país, conhecido pelas suas rimas complexas e repletas de metáforas.
No entanto, a sua trajetória não foi isenta de controvérsias. Após vários anos de sucesso, Duas Caras decidiu deixar a GPRO, o que causou grande comoção entre os fãs e a cena do hip-hop moçambicano. Nesse período, juntou-se ao projeto Extaka Zero, onde adotou a alcunha de Xkopeta e experimentou uma fusão de ritmos tradicionais moçambicanos com rap, lançando o álbum “Do Rovuma ao Maputo”. Esta mudança de estilo, embora bem-sucedida, gerou críticas por parte de alguns fãs que o acusaram de “trair” o rap.
Em 2006, Duas Caras regressou à GPRO, para alívio dos seus admiradores, e lançou a faixa “De Volta a Casa”, que rapidamente se tornou um hino entre os fãs de rap. Durante este período, lançou várias músicas que reforçaram a sua posição no rap moçambicano, incluindo “Sujo Sujo”, “Cú Gordo”, e “Dzukupandza”.
Nos anos seguintes, Duas Caras continuou a consolidar a sua carreira com lançamentos notáveis, incluindo o single “Dinda” em 2015, em parceria com Twenty Fingers, e o EP “Duditos Way” em 2018. Em 2020, lançou o seu primeiro álbum de estúdio, “Djundava”, seguido em 2022 pelo EP “Afromatic”, que inclui colaborações com artistas como Azagaia e Ras Haitrm.
A sua discografia é vasta e inclui álbuns colaborativos, EPs e singles que são marcos na música moçambicana. Ao longo dos anos, Duas Caras recebeu vários prémios e indicações, consolidando a sua reputação como um dos maiores rappers de Moçambique.
Duas Caras não é apenas um artista; ele é uma voz que representa as lutas e aspirações de muitos jovens moçambicanos. A sua música, caracterizada pela profundidade lírica e a combinação de elementos tradicionais com rap, continua a inspirar novas gerações de músicos e fãs em todo o país.
