Capítulo 9 – Fome e Frio
As duas presenças constantes na vida de Salimo eram a fome e o frio. A barriga vazia doía como se tivesse pedras dentro. Às vezes, encontrava restos de pão endurecido no lixo do mercado e mastigava devagar, tentando enganar o corpo. Outras vezes, a bondade discreta de alguém surgia — uma fruta deixada “sem querer” por uma vendedora, um pedaço de mandioca partilhado com outros meninos.
Mas a fome nunca se afastava totalmente. Tornara-se uma sombra a segui-lo por todo lado.
À noite, era o frio que dominava. O asfalto guardava o gelo da madrugada e parecia atravessar-lhe os ossos. Salimo encolhia-se atrás de muros, embrulhado em papelão ou num pano velho que encontrara. Mesmo assim, os dentes batiam, e o corpo tremia. Nessas horas, fechava os olhos e recordava o calor do colo da mãe, como se aquela lembrança pudesse aquecê-lo.
Entre um arrepio e outro, descobriu que sobreviver significava resistir. Não era só uma luta contra o estômago vazio ou contra o vento cortante: era uma batalha para não perder a esperança. Porque a fome podia enfraquecer o corpo, mas o desespero tinha o poder de matar a alma.
Tu Podes: Resistir à fome e ao frio é duro, mas cada dia vencido é prova de que a tua força é maior do que a dor.