Capítulo 31 – A Noite das Imagens
A noite caiu pesada sobre o bairro, mas dentro de Salimo o silêncio era habitado por vozes e imagens. Deitado no seu canto simples, olhava o teto escuro como se fosse uma tela de cinema. Lá, desfilavam as cenas da visita à Quinta Nicy: os pátios cheios de galinhas, patos, perus, codornas e pombos; as incubadoras a pulsar vida em ovos que prometiam futuro; a máquina misturadora de ração a trabalhar como coração de independência; o cheiro doce das mangas e dos ananases transformados em polpa; as cenouras e couves lavadas e embaladas com cuidado; os congeladores a guardar alimentos para o amanhã; e, por fim, os jovens de bicicleta e motorizada a sair pelo portão, carregando caixas como quem carrega esperança.
Cada imagem não era apenas lembrança — era promessa. Parecia-lhe que o vento da noite sussurrava em sua direção: “Isto também pode ser teu.”
O corpo pedia descanso, mas a mente recusava. Era como se dentro dele algo tivesse despertado e não houvesse como adormecer de novo. Sentia-se inquieto, não de medo, mas de expectativa. O menino invisível da rua, tantas vezes esquecido, agora descobria que existia um lugar onde até ele podia caber, crescer e sonhar.
Salimo fechou os olhos, não para dormir, mas para desenhar o futuro. E quanto mais pensava, mais percebia: aquela noite não era de sono, mas de sementes.
Tu Podes: Quando o coração começa a semear imagens de futuro, o descanso dá lugar a planos.