 
                    Capítulo 3 – O Brilho e a Dor
Logo nos primeiros dias, ficou claro que havia algo diferente em Salimo. As letras que outros decoravam sem entusiasmo, ele devorava com brilho nos olhos. Cada palavra aprendida era como uma chave que abria portas invisíveis. Na matemática, descobriu prazer em resolver contas, como se os números fossem enigmas esperando por ele.
Mas, ao mesmo tempo em que a escola lhe revelava caminhos, também mostrava as marcas da desigualdade. Enquanto alguns colegas chegavam com lancheiras coloridas, ele muitas vezes só tinha a barriga vazia. Enquanto outros levavam cadernos novos, Salimo reaproveitava folhas amassadas. O lápis era pequeno, quase a chegar à borracha, mas ele o segurava como quem protege um tesouro.
As diferenças eram notadas e, às vezes, usadas como arma. Alguns colegas riam dos seus sapatos gastos e das roupas remendadas. Outros cochichavam quando viam as páginas velhas do seu caderno. Doía, mas ele não se deixava calar. Ainda assim, nunca deixou de levantar a mão para responder. Cada vez que acertava, a vergonha diminuía, e a confiança crescia.
A escola era ao mesmo tempo espaço de dor e de descoberta. E, nesse equilíbrio frágil, Salimo começou a entender que o saber podia dar-lhe algo que ninguém podia tirar: dignidade.
Tu Podes: O que diferencia não é o que tens na mochila, mas a força que carregas no coração.
 
								 
								 
								 
								 
								 
								 
								 
								 
															 
															