Capítulo 22 – Um Novo Gosto pela Vida
Com o tempo, os cuidados aos animais deixaram de ser apenas tarefas e transformaram-se em algo maior: um prazer silencioso. Salimo descobria que acordar cedo para alimentar as aves já não era obrigação, mas escolha. Gostava de observar como os pintos corriam atrás de migalhas, como as codornizes se agitavam com sons diferentes, ou como os coelhos relaxavam quando o quintal ficava tranquilo.
A senhora notava essa dedicação. Certa vez, comentou:
— “Tens mão para os bichos. Eles confiam em ti.”
Essas palavras ficaram gravadas em Salimo. Depois de tanto tempo sentindo-se invisível, era forte ouvir que alguém reconhecia o seu valor. Percebia que ali, naquele quintal simples, estava a nascer algo que podia ser mais do que apenas um trabalho: podia ser um caminho de vida.
À noite, enquanto estudava, pensava no futuro. Ainda não sabia como, mas começava a sonhar com a possibilidade de criar algo próprio, de transformar aquele gosto em sustento. Sonho que, anos antes, parecia impossível para um menino da rua.
Mais do que comida ou abrigo, a vida começava a oferecer-lhe propósito. E propósito era a semente mais forte que alguém podia carregar.
Tu Podes: Quando descobres gosto no que fazes, já começaste a transformar esforço em futuro.