O porto de Maputo estava movimentado. Navios, guindastes, vozes em várias línguas. Mário observava o vaivém e comentou: “É curioso, professor. Sempre ouvi dizer que o comércio em Moçambique começou com os europeus. Mas olhando para isto, parece que sempre fomos um país de movimento.”
Mahlemba sorriu. “E sempre fomos, Mário. Muito antes de qualquer bandeira estrangeira chegar, este território já respirava comércio. No século XI, o ouro de Manica seguia até Kilwa e Mombaça; o marfim saía pelo porto de Sofala; o sal vinha de Inhambane. O povo de Angoche navegava em dhows pelo Índico, trocando tecidos, especiarias, ferramentas e histórias. As rotas ligavam o interior ao oceano, e o oceano ao mundo.”
“Então já havia globalização antes da globalização,” disse Mário, anotando.
“De certo modo, sim,” respondeu o professor. “Mas era uma globalização com alma. O comércio não era só de bens — era de saberes. Quando um mercador chegava, trazia notícias, religiões, novas formas de plantar e curar. As línguas se misturavam; a cultura crescia. Foi assim que o Suáli e o Maúa se encontraram, que o ferro de Marávia encontrou o sal do litoral. O país era uma teia viva, feita de confiança e reciprocidade.”
Mário olhou o porto. “Parece outro mundo, professor. Hoje trocamos mais coisas do que ideias.”
Mahlemba assentiu. “Exato. Perdemos o espírito do intercâmbio. Antes, cada troca fortalecia vínculos; hoje, muitos negócios enfraquecem relações. O valor estava em partilhar, não em acumular. E é por isso que o comércio antigo, mesmo simples, sustentava comunidades inteiras.”
“Então, professor,” concluiu Mário, “nós já sabíamos negociar muito antes de aprender a vender.”
Mahlemba riu. “Sabíamos viver do que tínhamos, não do que invejávamos.”
Mensagem final: Antes das fronteiras, o comércio já unia caminhos. Trocava-se o que se tinha e aprendia-se o que se via. O verdadeiro desenvolvimento nasce da partilha, não da competição.
