Naquela manhã chuvosa, o Professor Mahlemba estava de pé diante de um grande mapa colorido, coberto de linhas retas e nomes estrangeiros. “Mário,” disse ele, “entre 1880 e 1900, o destino de África foi decidido em mesas onde nenhum africano se sentou.”
Mário aproximou-se, intrigado. “O senhor fala da Partilha de África, não é?”
Mahlemba assentiu. “Sim. Em 1884, as potências europeias reuniram-se em Berlim — Alemanha, França, Inglaterra, Portugal, Bélgica, Itália e Espanha. O objetivo oficial era ‘organizar o comércio e evitar conflitos’, mas o verdadeiro propósito era dividir o continente. Usaram réguas e tintas para desenhar fronteiras em mapas que mal conheciam. Cortaram reinos ao meio, separaram povos que partilhavam língua e fé, e juntaram inimigos sob a mesma bandeira.”
Apontou para o mapa com o dedo firme. “Veja, Mário: a linha que atravessa a África Oriental passa por territórios que existiam há séculos — o Reino do Gaza, as terras do Maravi, as rotas do Zambeze. Tudo virou colónia, distrito, província. Em 1891, Portugal assinou o Acordo Anglo-Português que fixou as fronteiras de Moçambique — fronteiras que ainda hoje carregamos.”
Mário observava em silêncio. “Então foi nessa altura que deixámos de ser apenas povos e passámos a ser países.”
Mahlemba sorriu com tristeza. “Sim, Mário. Mas países desenhados por quem nunca nos visitou. Cada linha do mapa foi um corte na memória. E o império chamou isso de civilização.”
Fechou o livro devagar. “O continente foi leiloado em nome do progresso. Mas o progresso, quando nasce sem liberdade, é apenas outra forma de prisão.”
Mensagem final: Entre 1880 e 1900, África foi dividida em pedaços de papel.
As fronteiras nasceram em salões da Europa e cresceram em feridas no continente. Mas a terra nunca esqueceu os seus verdadeiros donos.
