O café da Baixa estava cheio. O som das chávenas misturava-se às conversas e ao barulho dos autocarros. Mário olhava pela janela, de onde se via o porto ao longe.
“Professor,” começou ele, “no outro dia o senhor disse que os estrangeiros vinham para trocar. Mas quando é que o comércio virou disputa?”
Mahlemba deu um gole no café e respondeu: “Por volta do ano 1500, Mário. Durante quase um século, o contacto com os mercadores vindos do Oriente foi pacífico.
Mas, quando os europeus chegaram, trouxeram outra lógica não a da troca, mas a do controle. Eles queriam dominar as rotas, estabelecer portos exclusivos, decidir quem podia negociar e quem não podia. Foi o começo da cobiça.”
“E o povo daqui?” perguntou Mário.
“Reagiu como pôde,” disse o professor. “Alguns reinos resistiram, outros tentaram negociar. Mas a entrada de um novo poder mudou o equilíbrio. As velas que antes traziam amizade começaram a trazer armas. O ouro de Manica e o marfim do Zambeze deixaram de ser riqueza partilhada e passaram a ser explorados sob vigilância. O comércio deixou de ser diálogo virou disputa.”
Mário fez uma pausa. “Então, professor, foi nessa altura que começámos a perder o controlo sobre o que era nosso?”
“Sim,” respondeu Mahlemba. “Mas não só por culpa de fora. Também porque, entre nós, começaram as divisões rivalidades locais, lutas por poder e desconfiança entre povos vizinhos. E quando um povo se divide, qualquer força externa o domina facilmente.”
O barulho do trânsito aumentou lá fora. Mahlemba olhou pela janela e disse: “A lição é antiga, Mário. O ouro atrai o estrangeiro, mas a desunião é que o convida a ficar.”
Mário ficou pensativo. “Parece que a nossa fraqueza sempre começa por dentro.”
Mahlemba sorriu, mas com tristeza. “E é por isso que conhecer o passado não é nostalgia é prevenção.”
Mensagem final: As rotas que antes uniam povos tornaram-se fronteiras de ambição. O ouro mudou de dono, mas a terra permaneceu a mesma.
Um país perde o que tem quando esquece o valor do que é.











































