O ar dentro do Museu da História Militar era denso, misturado com o cheiro de ferro e pó antigo. Mário observava um grande mapa da costa de Moçambique, cheio de linhas que ligavam portos e rios.
“Professor,” disse ele, “parece um mapa de estradas. Mas aqui chamam de rotas. O que exatamente significavam essas linhas?”
Mahlemba aproximou-se. “Essas linhas eram o coração do comércio, Mário.
Por volta do ano 1650, cada uma ligava um reino, um porto, um rio.
Por elas passavam ouro, marfim, escravos e especiarias mas também passavam poder e influência. Quem controlava as rotas, controlava a riqueza.”
“E foi por isso que começaram as guerras?” perguntou Mário.
“Exatamente,” respondeu o professor. “As forças estrangeiras disputavam o controlo do litoral, enquanto os reinos do interior lutavam para manter as suas ligações. Os árabes, os portugueses, os swahilis e até os comerciantes indianos competiam por influência. Cada grupo formava alianças diferentes e o território virou um tabuleiro de interesses.”
Mário olhou para as armas expostas. “E o povo comum?”
“O povo pagava o preço,” respondeu Mahlemba. “Vilarejos destruídos, famílias deslocadas, filhos levados como escravos. Mas também houve coragem. Muitos chefes e guerreiros resistiram, adaptaram-se, criaram rotas alternativas, esconderam riquezas. A luta era desigual, mas não era cega. Era um jogo de sobrevivência.”
Ficaram em silêncio por alguns segundos.
Mahlemba continuou: “O problema é que, enquanto lutávamos entre nós, o mundo lá fora consolidava impérios. Nós defendíamos pedaços; eles planeavam continentes.”
Mário anotou no caderno. “Então, professor, a desunião foi a nossa maior fraqueza.”
“E continua a ser, Mário,” disse o professor com firmeza. “Quando cada um protege apenas o seu interesse, todos perdem o interesse coletivo. Essa é a lição que a história nos deixou e que ainda não aprendemos totalmente.”
Mensagem final: As rotas da riqueza transformaram-se em caminhos de conflito.
Enquanto lutávamos por partes, outros desenhavam o todo. Nenhuma nação se fortalece enquanto o ‘meu’ fala mais alto que o ‘nosso’.











































