As palavras do Professor Mahlemba pareciam fazer o tempo recuar, e Mário, atento, imaginava imagens de outros séculos, cheias de caravanas, tambores e reis.
“Professor”, perguntou, “como era governado o nosso povo antes da colonização? Havia mesmo reinos, ou isso é só lenda?”
Mahlemba endireitou-se no assento e respondeu: “Havia reinos, Mário, e não eram pequenos. O mais conhecido foi o Império do Monomotapa, que se estendia desde o Zambeze até ao interior do que hoje é o Zimbabué. Era uma terra de ouro, comércio e organização. O rei o Mambo era mais do que governante: era guardião da harmonia entre o povo, a terra e os espíritos. Tinha conselheiros, generais e sacerdotes que asseguravam justiça e equilíbrio.”
Fez uma breve pausa, depois continuou: “Mais a sul, o Reino de Gaza floresceu séculos depois, liderado por homens como Soshangane. Tinha exército, leis e diplomacia. E pelo norte e centro do território existiam outros reinos e chefaturas Marave, Sena, Angoche, Sofala cada um com o seu sistema de poder, todos ligados por comércio e parentesco.”
Mário abanou a cabeça, surpreso. “Mas, professor, eu sempre pensei que a história da África antes da colonização era só aldeias e guerras…”
Mahlemba sorriu. “É o que muitos pensam, Mário, porque foi assim que nos ensinaram. Mas a verdade é que havia cidades, tribunais, alianças e cultura. As decisões eram tomadas em conselho, e o poder era partilhado. O rei que governasse sem ouvir o povo perdia legitimidade. Esses reinos provaram que a África não esperou que lhe ensinassem a governar. Já sabia fazê-lo à sua maneira com sabedoria, ordem e fé.”
Mensagem final: Antes dos impérios estrangeiros, existiram impérios africanos.
Organizados, sábios e humanos. Moçambique nasceu dessa força da arte de governar sem precisar dominar.











































