O Jardim Tunduru estava sereno naquela manhã. As árvores antigas faziam sombra sobre os bancos de ferro, e o som das aves misturava-se ao rumor distante da cidade. Mário chegou apressado, com um caderno e o telemóvel na mão. O Professor Mahlemba já o esperava, sentado, com um livro fechado sobre o colo.
“Professor,” começou Mário, “a minha geração quase não entende o passado. Na escola, aprendemos sobre a independência, mas pouco sobre o que veio antes. O que era Moçambique antes de ser Moçambique?”
Mahlemba sorriu. “Uma pergunta que vale uma vida, Mário. Antes dos hinos e das bandeiras, havia caminhos. Povos que trocavam sal por ferro, tecidos por ouro, histórias por ideias. De Sofala a Kilwa, de Manica ao Zambeze, os reinos se conheciam, comerciavam, casavam entre si. As pessoas viajavam, mas não falavam em fronteiras falavam em alianças.”
Mário anotava com atenção. “Mas como se governavam, se não havia Estado?”
“O Estado moderno não existia, mas havia ordem,” respondeu o professor. “A palavra de um homem valia mais que um selo. A justiça morava na comunidade.
Quando alguém errava, não se punia com prisão, mas com vergonha porque a honra era a moeda mais cara. E a riqueza não era o que se guardava, era o que se partilhava.”
Mário olhou o movimento do jardim. “Então, professor, éramos ricos de outro jeito.”
Mahlemba assentiu. “Ricos de laços, de propósito. As pessoas sabiam que pertenciam umas às outras. Vivíamos em equilíbrio com o tempo e com a terra. Cada geração sabia o que devia transmitir à seguinte e é isso que hoje precisamos reaprender.”
Mário fechou o caderno. “Parece que, antes das fronteiras, já havia nação.”
“Sim, Mário,” disse Mahlemba, olhando o céu entre as árvores. “E talvez a nossa missão agora seja reencontrar essa nação, dentro de nós.”
Mensagem final: Antes das fronteiras, já havia caminhos. Antes do Estado, já havia sabedoria. Quem não conhece o que foi, não entende o que pode voltar a ser.
