Episódio 17 – A convivência e o choque

O Café Scala fervilhava de vozes e música. No palco pequeno, um saxofone tocava uma melodia que lembrava as noites antigas da cidade. Mário mexia a chávena de café e perguntou: “Professor, depois de tanta separação, quando é que começou a convivência entre os dois mundos?”

Mahlemba respondeu com um olhar distante: “Por volta do ano 1940, Mário.

A cidade crescia, e com ela crescia também a necessidade de quem a fazia funcionar — os trabalhadores africanos. Vieram do interior, do norte, das zonas rurais, e trouxeram consigo a língua, o ritmo, o tempero e o riso.

As fronteiras sociais ainda existiam, mas o contato tornou-se inevitável.”

Mário inclinou-se. “E como era essa convivência?”

“Era uma convivência vigiada,” disse o professor. “O africano podia trabalhar na cidade, mas tinha de regressar à periferia ao fim do dia. Os cafés, os cinemas, as praias — quase tudo tinha lugar marcado. Mas mesmo dentro dessa desigualdade, nasciam pontos de encontro invisíveis: a música, o futebol, a comida de rua, os mercados.”

“Então a cultura juntava o que a política separava?”

“Exatamente,” respondeu Mahlemba. “No meio do controle, floresceu a criatividade. As guitarras misturaram-se aos tambores, o português ganhou sotaques novos, as roupas combinaram o pano com o fato. Nascia ali o estilo moçambicano — feito de resistência, beleza e adaptação.”

Mário sorriu. “É curioso, professor. Mesmo quando nos tentam calar, acabamos a criar.”

Mahlemba riu suavemente. “Porque a cultura, Mário, é a forma mais inteligente de resistência. Ela não grita, mas transforma. E foi nessa mistura — entre o imposto e o improviso, entre o proibido e o permitido — que o espírito do país começou a encontrar a sua voz.” O saxofone tocou mais alto.

Mário olhou pela janela, onde as luzes da cidade dançavam sobre o asfalto.

“Talvez essa voz ainda esteja viva, professor — só precisamos escutá-la outra vez.”

Mahlemba assentiu. “Sim, Mário. Ela nunca morreu. Só ficou coberta pelo barulho.”

Mensagem final: Da convivência forçada nasceu a criatividade. E das contradições da cidade nasceu o ritmo do país. A cultura é o milagre que transforma dor em identidade.

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Episódio 21 – A educação e a exclusão

Episódio 20 – O tempo dos trabalhadores e das missões

Episódio 18 – “O tempo das vozes baixas”

Episódio 17 – A convivência e o choque

A cidade dividida

Episódio 15 – As resistências esquecidas